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domingo, 24 de julho de 2016

Manual para mulheres de limpeza

Autor: Lucia Berlin
Edição: 2016/ maio
Páginas: 528
ISBN: 9789896650650
Editora: Alfaguara Portugal

Sinopse: 
Manual para mulheres de limpeza reúne o melhor da obra da lendária escritora norte-americana Lucia Berlin. Com um estilo muito próprio, faz eco da sua própria experiência - tão rica quanto turbulenta - e cria verdadeiros milagres a partir da vida de todos os dias. As suas histórias são pedaços de vidas convulsas.

Um dos melhores livros do ano segundo os jornais The New York Times e The Guardian.

A minha opinião: 
Gostei deste livro assim que o vi. 

A capa com aquela figura feminina (a autora) de sorriso negligente chamou-me a atenção, antes mesmo do titulo que guardei na memória e da sinopse que li quando o virei. Ainda assim não foi um livro que li compulsivamente. Ficou parado na minha mesa de cabeceira e ao fim do dia pegava nele para ler mais um conto e apreciar devagar o outro lado do sonho que Lucia narra com desapego, compassividade e economia de palavras.  Quase como se fosse uma peça jornalística que precisamos de conhecer para entender o mundo em que vivemos, que por outro lado, com o tanto que conta torna-se difícil de entender. A violência, maus tratos em mulheres e crianças, a miséria, a dependência do álcool e de drogas, o abandono, a dor e a morte, e em que o belo se mistura com tudo isto em pormenores observados ou imaginados que a autora registou para dar força e profundidade à prosa. Uma escrita tão realista que se torna verdadeira para o leitor. Sentida. 

"E´ uma questão de melhorarmos a realidade, de fazermos a nossa própria verdade." (pag. 483)  

Lidos todos os contos temos a trajectória de vida da autora, que confirmamos no fim com Uma nota sobre Lucia Berlin. Uma vida recheada mas sombria, com rasgos de humor e ironia. Uma nobreza de carácter que marca. Como um diário que se espreita em segredo.  

"O único motivo porque vivi tanto tempo foi ter largado o meu passado. Fechar a porta à dor, ao arrependimento, ao remorso. Se os deixar entrar, basta uma nesga autocomplacente, zás, a porta abre-se por inteiro e eis que entra uma torrente de dor que me rasga o coração e me cega os olhos de vergonha, parte chávenas e garrafas, derruba frascos e estilhaça janelas, faz-me tropeçar, ensanguentada, em açúcar entornado e em vidros partidos, sufocando de pavor até que, num ultimo estremecimento e soluço, fecho a porta pesada. Apanho os cacos uma vez mais. (pag. 509)

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