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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Ate´ que a morte nos una

Autor: Jonathan Tropper
Edição: 2015/ janeiro
Páginas: 408
ISBN: 9789898775214
Editora: Suma de Letras

Sinopse: 
Quando Judd Foxman encontra a esposa, Jen, na cama com o seu chefe numa posição muito comprometedora, perde o trabalho e a mulher. E no momento em que começava a pensar que as coisas não podiam piorar, recebe a notícia da morte do pai, cuja última e derradeira vontade é que os filhos cumpram o Shivá, uma tradição judaica que pretende juntar, debaixo do mesmo tecto, toda a família durante sete dias. Esta será a primeira vez que o clã Foxman se reúne desde há muito tempo.

Algumas famílias podem-se tornar tóxicas quando expostas a uma exposição prolongada. E a família Foxman em particular pode atingir um nível de toxicidade letal. É nisso que Judd está a pensar, com o prato de salmão e batatas à sua frente, na mesa, tentando alhear-se dos gritos dos sobrinhos. O telemóvel do cunhado não pára de tocar, a irmã e seu eterno compincha (o irmão mais novo) insistem em desferir-lhe dardos venenosos enquanto a sua mãe, num vestido demasiado justo, o olha com uma insuportável expressão de pena.
Bastam algumas horas para que a casa se torne num barril de pólvora prestes a explodir, com velhos rancores, paixões nunca silenciadas e segredos vergonhosos. E, enquanto todos à sua volta parecem perder o controlo, Judd terá de tentar descobrir se consegue encontrar um novo equilíbrio, apesar de tudo.

A minha opinião: 
Um talento ímpar para transformar o amor numa imensa trapalhada.   
Não dispenso ou adio ler qualquer romance de Jonathan Tropper. São imbatíveis em sarcasmo, muitas vezes irreverente mas sempre inteligente e profundo que nos deixam com lágrimas nos olhos de comoção ou de riso descontrolado em cenas visualmente expressivas e fortes. 

Esta saga familiar e´ de leitura compulsiva apesar das suas mais de 400 paginas de letra miudinha. Não consegui me apertar desta brilhante historia e das suas peculiares personagens tão bem caracterizadas porque estava presente no Shivá daquela enlutada e entorpecida família. Todos nos tocam de um jeito especial porque os compreendemos e aceitamos como melhores amigos. Uma família com dificuldade em exprimir emoções em acontecimentos trágicos, que recorrem a gracejos, sarcasmos e insultos em aniversários, dias de festa, casamentos e doenças.

Não tenho palavras para elucidar ou preparar para o que vão encontrar nestas paginas sem  parecer que estou a pecar por excesso. Mas, não se consegue resistir ao que projectamos com as cenas protagonizadas pelos membros desta família. Os seus perturbados pensamentos ou comentários são um festim, bem como a sua sagacidade que em animados diálogos nos deixam estarrecidos. 

Para perceberem do que escrevo, nada melhor do que incluir alguns fragmentos.

"E´ preciso um GPS para acompanhar as vidas sexuais desta família. Interrogo-me se o amor será uma coisa assim tão retorcida com todas as outras pessoas ou se a nossa família tem um talento ímpar para o transformar numa imensa trapalhada."                       (pag. 330)

"Os casamentos desmoronam-se. Todas as pessoas tem as suas razoes, mas ninguém sabe ao certo porque. (...) Sabíamos que o casamento poderia ser difícil tal como sabíamos que havia crianças a morrer em África. Era um facto trágico mas a milhas da nossa realidade. Nos iríamos ser diferentes. Iríamos manter a chama acesa; seriamos os melhores amigos que fo*iam todas as noites ate perder os sentidos. Iríamos evitar as armadilhas da complacência: manter-nos-íamos jovens por dentro e por fora, sempre de barriga lisa, continuaríamos a dar beijos demorados e arrebatados, a dar a mão ao passear, a ter conversas sussurradas noite dentro, a curtir em salas de cinema e a fazer sexo oral um ao outro, com um entusiasmo indefectível, ate´ que as limitações artríticas da velhice o desaconselhassem."                                                                                            (pag. 23)   

"O que queria dizer e´ que seria demasiado fácil afirmar que a perda do bebe foi o ponto onde descarrilamos. As pessoas adoram fazer isto, apontar um único fenómeno, atribuir-lhe todas as culpas e fazer tábua rasa, tal como quando os comilões processam a McDonald's por os ter transformado nuns potes de banho. No entanto, a verdade e´ sempre muito mais difusa, esconde-se na periferia e não fica bem focada. No fundo, ou temos o tipo de casamento capaz de aguentar o trauma ou não."                                                                                               (pag. 174/5) 

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