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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea

Autor: Romain Puértolas
Edição: 2014/ setembro
Páginas: 208
ISBN: 9789720046925
Editora: Porto Editora

Sinopse: 
Ajatashatru Larash Patel, faquir de profissão, que vive de expedientes e truques de vão de escada, acorda certa manhã decidido a comprar uma nova cama de pregos. Abre o jornal e vê uma promoção aliciante: uma cama de pregos a 99,99€ na loja Ikea mais próxima, em Paris. Veste-se para a ocasião – fato de seda brilhante, gravata e o seu melhor turbante – e parte da Índia com destino ao aeroporto Charles de Gaulle. Uma vez chegado ao enorme edifício azul e, maravilhado com a sapiência expositiva da megastore sueca, decide passar aí a noite a explorar o espaço.

No entanto, um batalhão de funcionários da loja, a trabalhar fora de horas, obriga-o a esconder-se dentro de um armário, prestes a ser despachado para Inglaterra. Para o faquir, é o começo de uma aventura feita de encontros surreais, perseguições, fugas e aventuras inimagináveis, que o levam numa viagem por toda a Europa e Norte de África.
Trata-se de uma aventura rocambolesca e hilariante passada nos quatro cantos da Europa e na Líbia pós-Kadhafi, uma história de amor efervescente, mas também o reflexo de uma terrível realidade: o combate travado por todos os clandestinos, últimos aventureiros do nosso século.

A minha opinião: 
Uma fantástica viagem que começou em França num armário e passou por Inglaterra, Espanha, Itália e Líbia durante nove dias como clandestino involuntário. Uma viagem interior que nos ensina que é descobrindo outras coisas que nos tornamos diferentes. 

Os encontros que o faquir teve ao sabor dos imprevistos que marcaram o seu périplo com cinco "electrochoques em pleno peito"durante esta aventura, o amor de Marie e a amizade de Sophie, transformaram-no num novo homem. E certamente, transformam o leitor que lê esta genial narrativa, sugestionados à partida por um título longo e estapafúrdio esperam um livro humorístico (tipo banda desenhada em texto) e não um romance bem engendrado, que apesar de divertidíssimo também é critico e fala sobre assuntos muito sérios, como a realidade dos "países ricos" com os imigrantes clandestinos.

Um fragmento adaptado (os tempos dos verbos) reza assim:
"Abandonam tudo para partir para um país onde pensam que os deixam trabalhar e ganhar dinheiro, mesmo que para isso tenham que apanhar merda com as mãos. Tudo o que pedem, desde que os aceitem. Encontrar um trabalho honesto a fim de poderem enviar dinheiro para a família, para a sua gente, para que as crianças não ostentem aqueles ventres dilatados e pesados como bolas de basquete, e ao mesmo tempo tão vazios, para que sobrevivam todos à luz do sol, sem as moscas que se colam aos lábios depois de terem pousado no cu das vacas".

Conto, sátira ou farsa, não sei ... mas impõe alguma reflexão. As metáforas abundam, inclusive com as personagens. 
O faquir indiano, charlatão e vigarista, de turbante branco, alto, seco, com um bigode que lhe atravessa a cara, piercings e cicatrizes é difícil de esquecer e não visualizar sem sorrir. Regenera e torna-se escritor e começa por escrever numa camisa os primeiros capítulos do seu livro. Não é maravilhoso?

Estereótipos cómicos para realçar aspectos críticos na sociedade. Um livro diferente e especial, que merece ser lido.

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