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sábado, 16 de agosto de 2014

Madre Paula

Autor: Patricia Müller
Edição: 2014/ julho
Páginas: 216
ISBN: 9789892327839
Editora: Lua de Papel

Sinopse:
Para o mundo ela era apenas uma freira. Mas para El Rei ela era uma rainha.
Lisboa, início do século XVIII da Graça de El Rei D. João V. Paula, a filha pobre de um ourives, deixa a azáfama das ruas de Lisboa para ingressar no Mosteiro de São Dinis, em Odivelas. Não é Deus quem a chama, mas sim a necessidade de um pai que já não a pode sustentar. Quis o destino, porém, que aquela rapariga de pé descalço se viesse a tornar na mais conhecida freira da nossa história. E numa das mulheres mais poderosas de um reino que vivia no extravagante esplendor pago com os escravos de África, com o ouro do Brasil…

Madre Paula é a história desse amor proibido, entre o Rei-Sol português, D. João V, e a famigerada freira de Odivelas. Um amor intenso, maior que tudo, que levou o rei a ignorar o bom senso e a tomar a freira como amante, confidente e conselheira. 
D. João V sempre teve uma predileção por mulheres bonitas, mas Paula foi o seu grande amor. Permaneceram juntos, secretamente, mais de uma década, e chegaram a ter um filho. A história entre um dos homens mais poderosos do mundo e a plebeia que a Deus traiu inscreve-se na categoria de mito, mas é bem real, nas páginas do romance de estreia de Patrícia Müller. Juntos enfrentaram intrigas palacianas, a ameaça do castigo divino, o ciúme e os jogos de poder. E a quase tudo resistiram – pois durante uma década, para D. João V, Madre Paula foi a sua única e verdadeira rainha.

A minha opinião:
Possivelmente o melhor romance histórico que já li. Palavras cruas e belas, impregnadas de sentimento, já que de uma amor proibido se trata. O amor entre o rei D. João V e a freira do mosteiro de Odivelas, Paula Tereza da Silva, madre Paula. Esta é também uma fantástica história de amor.

Não sei como Patrícia Müller conseguiu criar duas personagens tão extraordinárias como Soror Paula e D. João V, e dar-lhes vida como se recuássemos alguns séculos e testemunhássemos as escaramuças e os arrojos apaixonados destes dois seres de vincada personalidade e génio tumultuoso que se debatiam e se amavam ferozmente. Uma mulher digna, capaz de actos indignos, para um rei soberbo e homem de muitas mulheres. Seja como for, esta é uma autora que sabe como usar as palavras ao contar uma história que a História não esqueceu.

O livro é apelativo e a sinopse explicita e concisa. Tudo neste romance foi bem conjecturado, e razões de sobra para ser um sucesso. O enquadramento histórico, mesmo para uma leiga como eu, foi objecto de uma sucinta apreciação. 

Desnecessário insistir em elogios sobre um romance que tanta satisfação me deu. Mas atentem neste fragmento retirado das primeiras páginas e saberão o quão promissora pode ser esta leitura. Imaginem a minha surpresa quando descobri que esta era mais uma obra de uma escritora portuguesa. Somos bons, muito bons quando nos propomos ser. A História assim o diz.

“Sei o que me chamam pelas costas: rameira.
Como se os pecados deles fossem diferentes do meu. O meu pecado? Traí Deus com um homem. Um rei. Tivemos um filho, prova viva da minha culpa. Não choro, não me arrependo. Que falem, experimentem viver atrás das grades, reclusos num palácio de ouro. Nascessem pobres, mal tendo o que comer, chegassem a amar a ponto de não poderem saber se estão vivos ou mortos. Saberiam o que é caminhar nos meus sapatos e poderiam ensaiar todos os julgamentos do mundo. Iam dar-se mal.
(…)
Com os anos, a marioneta foi ganhando vida. Conquistou o público e substituiu el-rei, o mestre que a fazia abrir e fechar a boca para falar, abrir e fechar as pernas para dar prazer.
Amor.
E eu sabia que era verdade o que sentia e dizia, mas que a verdade vale no fim muito pouco. O amor não serve se não poder ser vivido por inteiro. E a minha história com João Francisco António José Bento Bernardo de Bragança, o Magnânimo, o Rei-Sol, o meu sol é uma história incompleta. Interrompida pelo destino divino e pela história de um país.
(…)
Uma plebeia tratada como um princesa. Tive os destinos de uma nação entre os lençóis. 
Apaixonei-me pelo poder e amei o homem por detrás dele.”

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