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sábado, 27 de abril de 2013

O Legado de Nhô Filili


Autor: Luís Urgais
Edição: 2012, Junho
Páginas: 224
ISBN: 9789895559664
Editora: Oficina do Livro

Sinopse:

Filho de minhotos, João Bento Rodrigues - que ficaria conhecido por Filili - nasceu na ilha do Fogo no ano da abolição da escravatura. O decreto não bastou, porém, para que se extinguisse o tráfico, até porque os negreiros tinham a cumplicidade das autoridades; e foi assim que Maguika, capturada nas matas da Guiné, se tornou propriedade de Nhô Filili, trazida por um negociante desejoso de, com presentes, o conquistar para genro. Contudo, assim que pôs os olhos na negrinha, João Bento Rodrigues já não voltou a olhar para outra mulher, afrontando a elite da capital ao entrar na igreja de braço dado com a escrava e, mais tarde, unindo-se a ela pelo santo matrimónio, desafiando preconceitos e convenções. Mas, se é verdade que as pretendentes não gostaram de se saber preteridas, quem mais sofreu foi Leila, a concubina com quem Filili mantinha laços íntimos e que, de repente, se viu sozinha na Cidade Velha com um segredo. O passado tem, no entanto, maneiras de regressar quando menos se espera. E, às vezes, ainda bem. 

Tendo por cenário o arquipélago de Cabo Verde entre a segunda metade do século xix e a primeira do século xx, O Legado de Nhô Filili é o retrato de uma África bela e sedutora, mas também dura e miserável, e bem assim uma metáfora da história da mestiçagem biológica e cultural e da génese dos movimentos pela independência das Colónias.

A minha opinião:
Narrativa ao qual fiquei colada desde as primeiras páginas, espantada com a fluidez das palavras e a coerência dos pensamentos. Tal e qual como me sugeriram quando me colocaram este livro nas mãos. Da parte de alguém que ainda pouco sei mas que já admiro como leitor inveterado, e que agradeço por tão agradável e engrandecedora leitura
Ao contrário do que ele expressou sobre este singelo romance que busca nas nossas raízes a inspiração para esta fição que alguma polémica suscitou, eu conheço e tenho gratas memórias de Cabo Verde - de S. Vicente, Mindelo, onde passei algumas semanas e não numa qualquer estância de férias. Recordo belas praias de areias vulcânicas e outras paisagens áridas e despidas que o vento inclemente não poupa, sujeitas a chuvas esporádicas e não sazonais como estamos habituados. E a catcupa, ou o grogue.

 O povo e as ilhas que o autor bem caracteriza numa referência ao passado, em que a escravatura mesmo que abolida ainda vigorava até à decadência das colónias, por uma personagem integra e reta como Nhô Filili que enfrentou as convenções e a hipocrisia de uma sociedade racista por amor a uma escrava da Guiné.

Céptica com autores de expressão portuguesa, mais uma vez fui derrotada nas minhas convições por uma narrativa pujante que li absorta. 

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