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domingo, 28 de abril de 2013

Fragmento

"- Homem, o que vi foi a injustiça dos homens que estão sempre a evocar o santo nome de Jesus em vão. E pude constatar que, de púlpito, muitos sacerdotes lançam ameaças contra os desgraçados dos fiéis desprotegidos e miseráveis, utilizando o Breviário como texto aterrador em nome do Santissimo! Porque pensas que tenho mulher e filhos dentro de casa? Eu respondo: em muitas paróquias do nosso amado Portugal, na Nação de tão ilustres varões lusitanos que deram novos mundos ao mundo, muitos daqueles que deveriam ser um exemplo de santidade, nobreza, honradez e despojamento, como nos ensinou S. Francisco, são, pelo contrário, protagonistas das mais vis práticas, servindo-se dos seus privilégios sociais para usurpar os bens alheios.(...) tudo lhes roubam: o pão, as mulheres e a dignidade.
Desonram moças e abandonam-nas à sua sorte, quando não as obrigam a casar-se, sob o manto das Sagradas Escrituras, com infelizes estarolas ou famintos e indigentes, tudo para dissimular as suas devassidões. Eu assumo que, em determinação de Sua Santidade Pontifícia, ando em pecado pelo facto de não cumprir com o celibato de Roma, mas tenho plena consciência de que procuro na Terra particar a justiça, como nos ensinou Jesus Cristo, no amor ao próximo. Desafio todos aqueles que afirmam não pecar a atirar-me uma pedra. Tenho em casa uma concubina porque o Direito Canónico não me concede o santo matrimónio. No entanto, para todos os efeitos, trato com respeito essa mulher que, pela graça de Deus, me deu três filhos, ao invés daqueles que partilham o leito com mulheres alheias e as deixam nos mais míseros limites humanos. A esses a nossa oligarquia sacerdotal tudo encobre, fazendo dos biltres pecadores anjinhos beatificáveis."
(pag. 115)

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